Gravidez é tema de filme em Locarno

19/07/2015 por Rui Martins no Correio do Brasil

Filme brasileiro em co-produção, Olmo e a Gaivota, está na competição da mostra Cineastas do Presente, em Locarno
Filme brasileiro em co-produção, Olmo e a Gaivota, está na competição da mostra Cineastas do Presente, em Locarno

O filme Olmo e a Gaivota, dirigido pela premiada cineasta brasileira Petra Costa com a dinamarquesa Lea Glob, está na competição da mostra Cineastas do Presente. Vai estrear dia 10 de agosto e com ele aumenta para nove o número dos filmes brasileiros no 68.Festival Internacional de Cinema de Locarno. Olmo e a Gaivota tinha sido premiado no Festival Internacional de Documentários de Copenhague, quando em fase de finalização.

O tema do filme Olmo e a Gaivota não é apenas a gravidez mas uma reflexão sobre as limitações e opções impostas pela vida feminina, reunindo ficção com a realidade e teatro clássico com documentário. A ficção vem do livro Senhora Dalloway, de Virginia Woolf, e a realidade de um casal de atores do elenco do Théâtre du Soleil, de Ariane Mnouchkine.

A atriz se prepara para interpretar Arkadina, na peça A Gaivota de Tchekov, quando descobre estar grávida. A princípio, imagina ser possível interpretar seu papel mesmo grávida, porém à medida que seu ventre cresce, surge o temor de precisar sacrificar aquele momento importante de sua carreira pela maternidade. Um inesperado sangramento, que a obriga ficar em repouso apressa essa situação. O desejo de fazer carreira teatral se choca com a transformação do seu corpo, onde um novo ser vai tomando forma.

A atriz principal é a italiana Olivia Corsini e o ator o francês, também diretor de teatro, Serge Nicolai, ambos do Théâtre du Soleil, estiveram recentemente no Brasil. O filme é coproduzido pela Dinamarca, Brasil e Portugal, falado em francês.

A cineasta mineira Petra Costa já dirigiu Olhos de Ressaca, curta-metragem, premiado no Rio, Gramado e outros festivais, e Elena, longa-metragem, premiado no Festival de Brasília.

Depois de ter partilhado a sua dor através de um tributo intimo à sua falecida irmã, Petra Costa decide explorar as crises existenciais de uma atriz promissora, Oliva, cuja vida se altera drasticamente após a descoberta da sua gravidez.

Tal como a sua primeira longa-metragem , Elena, Costa regressa ao estilo inconformado do documentário, numa reinvenção com pé assente na fição e outro no limiar da realidade e da manipulação cinematográfica. Poderíamos salientar que em Olmo e a Gaivota somos remetidos à estranheza, a bizarria da forma narrativa e através disso a uma viagem direta para sentido vital da sua protagonista / vitima. Enquanto que em Elena o espectador sentia incomodo por penetrar em territórios tão pessoais da autora, nesta nova longa-metragem (em colaboração com Lea Glob) temos a tendência de julgá-la pela persistência de entranhar na vida, ainda a ser "escrita", da sua atriz, mesmo que esta demonstre por várias ocasiões as fronteiras impenetráveis e proibidas do seu ser.

Um exercício narrativo que tem sido várias vezes comparado com os triunfos literários atingidos por Virginia Woolf (Mrs. Dalloway). A obra assenta num diversificado registo tão distinto da autora, que se comporta como uma entidade divina no preciso momento em que chega a transformar a sua própria realidade, como se esta fosse barro maleável pronto para uma exibição. É uma peça de arte, se assim acreditarmos, que reúne a perfomance artística em conjugação com uma veia teatral forte (a protagonista é uma atriz de teatro em plena encenação de A Gaivota, de Anton Tcheknov, logo é evidente essa matriz) com a complexidade literária; a experimentação dos pensamentos da sua "heroína" como conduta narrativa a reter. Aliás, ela é o leme, enquanto as realizadoras adquirem um papel de almirantes em alto-mar.

Os medos da maternidade, a cedência às trivialidades do quotidiano e os sonhos desfeitos em prol do ciclo que a vida suscita, são pontos de reflexão que Oliva contrai , sujeita às intervenções das suas respetivas "patroas", agora ditadoras do seu dia-a-dia. Uma luta assinalada como se uma gaivota resistisse à tempestade. Olivia é essa gaivota (alusão ao filme), contando com Serge, o seu "olmo", a árvore medicinal que contrabalança a sua alma enclausurada.

Uma história de amor atormentada, mas rica em momentos românticos que salientam o seu "quê" de realidade, e tal é testemunhado logo nos primeiros minutos, onde Serge recita com tanta afeição Mi Sono Innamirato di Te (Luigi Tenco). Ocasionalmente belo e narrativamente utópico, Olmo e a Gaivota é uma peça-mestre na maleabilidade narrativa, e mostra como Petra Costa poderá tornar-se mais que somente uma promessa: uma poeta visual. Apesar de tudo, e infelizmente, não é o turbilhão de emoções que Elena fora, essa ainda (um pouco) desconhecida pérola do género documental.

O melhor - A complexidade narrativa e de temas partilhados nesta experiência fílmica
O pior - Petra Costa ainda ser ignorada em Portugal, nem mesmo devidamente mencionado pela imprensa.

- See more at: http://www.c7nema.net/outras-criticas/item/44054-olmo-e-a-gaivota-por-hugo-gomes.html#sthash.GRxInsiX.dpuf

Depois de ter partilhado a sua dor através de um tributo intimo à sua falecida irmã, Petra Costa decide explorar as crises existenciais de uma atriz promissora, Oliva, cuja vida se altera drasticamente após a descoberta da sua gravidez.

Tal como a sua primeira longa-metragem , Elena, Costa regressa ao estilo inconformado do documentário, numa reinvenção com pé assente na fição e outro no limiar da realidade e da manipulação cinematográfica. Poderíamos salientar que em Olmo e a Gaivota somos remetidos à estranheza, a bizarria da forma narrativa e através disso a uma viagem direta para sentido vital da sua protagonista / vitima. Enquanto que em Elena o espectador sentia incomodo por penetrar em territórios tão pessoais da autora, nesta nova longa-metragem (em colaboração com Lea Glob) temos a tendência de julgá-la pela persistência de entranhar na vida, ainda a ser "escrita", da sua atriz, mesmo que esta demonstre por várias ocasiões as fronteiras impenetráveis e proibidas do seu ser.

Um exercício narrativo que tem sido várias vezes comparado com os triunfos literários atingidos por Virginia Woolf (Mrs. Dalloway). A obra assenta num diversificado registo tão distinto da autora, que se comporta como uma entidade divina no preciso momento em que chega a transformar a sua própria realidade, como se esta fosse barro maleável pronto para uma exibição. É uma peça de arte, se assim acreditarmos, que reúne a perfomance artística em conjugação com uma veia teatral forte (a protagonista é uma atriz de teatro em plena encenação de A Gaivota, de Anton Tcheknov, logo é evidente essa matriz) com a complexidade literária; a experimentação dos pensamentos da sua "heroína" como conduta narrativa a reter. Aliás, ela é o leme, enquanto as realizadoras adquirem um papel de almirantes em alto-mar.

Os medos da maternidade, a cedência às trivialidades do quotidiano e os sonhos desfeitos em prol do ciclo que a vida suscita, são pontos de reflexão que Oliva contrai , sujeita às intervenções das suas respetivas "patroas", agora ditadoras do seu dia-a-dia. Uma luta assinalada como se uma gaivota resistisse à tempestade. Olivia é essa gaivota (alusão ao filme), contando com Serge, o seu "olmo", a árvore medicinal que contrabalança a sua alma enclausurada.

Uma história de amor atormentada, mas rica em momentos românticos que salientam o seu "quê" de realidade, e tal é testemunhado logo nos primeiros minutos, onde Serge recita com tanta afeição Mi Sono Innamirato di Te (Luigi Tenco). Ocasionalmente belo e narrativamente utópico, Olmo e a Gaivota é uma peça-mestre na maleabilidade narrativa, e mostra como Petra Costa poderá tornar-se mais que somente uma promessa: uma poeta visual. Apesar de tudo, e infelizmente, não é o turbilhão de emoções que Elena fora, essa ainda (um pouco) desconhecida pérola do género documental.

O melhor - A complexidade narrativa e de temas partilhados nesta experiência fílmica
O pior - Petra Costa ainda ser ignorada em Portugal, nem mesmo devidamente mencionado pela imprensa.

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Depois de ter partilhado a sua dor através de um tributo intimo à sua falecida irmã, Petra Costa decide explorar as crises existenciais de uma atriz promissora, Oliva, cuja vida se altera drasticamente após a descoberta da sua gravidez.

Tal como a sua primeira longa-metragem , Elena, Costa regressa ao estilo inconformado do documentário, numa reinvenção com pé assente na fição e outro no limiar da realidade e da manipulação cinematográfica. Poderíamos salientar que em Olmo e a Gaivota somos remetidos à estranheza, a bizarria da forma narrativa e através disso a uma viagem direta para sentido vital da sua protagonista / vitima. Enquanto que em Elena o espectador sentia incomodo por penetrar em territórios tão pessoais da autora, nesta nova longa-metragem (em colaboração com Lea Glob) temos a tendência de julgá-la pela persistência de entranhar na vida, ainda a ser "escrita", da sua atriz, mesmo que esta demonstre por várias ocasiões as fronteiras impenetráveis e proibidas do seu ser.

Um exercício narrativo que tem sido várias vezes comparado com os triunfos literários atingidos por Virginia Woolf (Mrs. Dalloway). A obra assenta num diversificado registo tão distinto da autora, que se comporta como uma entidade divina no preciso momento em que chega a transformar a sua própria realidade, como se esta fosse barro maleável pronto para uma exibição. É uma peça de arte, se assim acreditarmos, que reúne a perfomance artística em conjugação com uma veia teatral forte (a protagonista é uma atriz de teatro em plena encenação de A Gaivota, de Anton Tcheknov, logo é evidente essa matriz) com a complexidade literária; a experimentação dos pensamentos da sua "heroína" como conduta narrativa a reter. Aliás, ela é o leme, enquanto as realizadoras adquirem um papel de almirantes em alto-mar.

Os medos da maternidade, a cedência às trivialidades do quotidiano e os sonhos desfeitos em prol do ciclo que a vida suscita, são pontos de reflexão que Oliva contrai , sujeita às intervenções das suas respetivas "patroas", agora ditadoras do seu dia-a-dia. Uma luta assinalada como se uma gaivota resistisse à tempestade. Olivia é essa gaivota (alusão ao filme), contando com Serge, o seu "olmo", a árvore medicinal que contrabalança a sua alma enclausurada.

Uma história de amor atormentada, mas rica em momentos românticos que salientam o seu "quê" de realidade, e tal é testemunhado logo nos primeiros minutos, onde Serge recita com tanta afeição Mi Sono Innamirato di Te (Luigi Tenco). Ocasionalmente belo e narrativamente utópico, Olmo e a Gaivota é uma peça-mestre na maleabilidade narrativa, e mostra como Petra Costa poderá tornar-se mais que somente uma promessa: uma poeta visual. Apesar de tudo, e infelizmente, não é o turbilhão de emoções que Elena fora, essa ainda (um pouco) desconhecida pérola do género documental.

O melhor - A complexidade narrativa e de temas partilhados nesta experiência fílmica
O pior - Petra Costa ainda ser ignorada em Portugal, nem mesmo devidamente mencionado pela imprensa.

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